Os leitores do "Consulta" são brindados hoje com mais um texto sensível e delicado da minha querida e talentosa amiga Luciana Praxedes. Delicie-se!
Ela segue
muito bem com a vida quando ele não está. Não morre, não faz greve de fome, não
permanece letárgica no sofá. Ela se empenha no trabalho e quando chega o
domingo, ela ainda está viva. Tem praia, tem cinema, tem Netflix. Mas surge um
sentimento de ausência, uns buracos no meio dos dias. É porque falta o cheiro
dele, falta o som do sorriso dele. Falta... Ainda assim ela não morre e
continua em atividade, superando os “perrengues” da vida. Só que intimamente percebe:
ela se ajeita melhor perto dele.
Mesmo quando
ele não está ela continua distribuindo sorrisos e rindo de si mesma. E ri dos
outros também. A vida continua sendo boa ainda que ele não esteja por perto.
Ela continua a ler os mesmos jornais e se esforça para não faltar na academia.
Ela não se arrasta pelos cantos. Sente fome, tem sede e adora achar motivo para
ficar à toa naquele bar. Mas como seria bom ter a companhia dele, dando conta
da garrafa de vinho e segurando a mão dela. Ter o ombro dele para se encostar.
Ela não
enfraquece, não esmorece quando ele não está. Permanece fazendo planos,
economizando grana para a viagem de volta ao mundo. Só que tudo isso se dissipa
se ele surge no horizonte. As pernas dela ficam bambas, o coração entra em
descompaso, as mãos formigam, o rosto parece incendiar e as palavras
desaparecem. A vida ganha mais sentido quando ele está. Porque é do lado dela
que ele deveria permanecer. Ficar.
Ele nunca esteve
ou fez parte dos planos dela, nunca foi uma meta a ser perseguida, mas o
inesperado o trouxe para ela. E entre trancos e barrancos eles construíram
algo. Ela continua atenta para não invadir o espaço alheio e para não cobrar o
que ele não pode oferecer. Não faz perguntas para respostas que ele não tem. Então
ela segue sua jornada, com algum medo e carregada de dúvidas. Muitas vezes com
a sensação de se equilibrar na corda bamba. Mas bem ou mal ela decidiu deixar
ele entrar. Ela não quis resistir e abriu todas as portas e escancarou as
janelas. Percebeu que seria melhor colecionar memórias e lembranças ao invés de
não tê-las.
Ela não culpa
ele ou ninguém mais por este ou aquele desfecho. Ela apenas sente falta dele.
Muita falta. Mas ao mesmo tempo sabe que é preciso varrer as folhas mortas,
acalmar as lágrimas e não esperar por nenhuma justificativa ou gesto romântico
de amor. Ela aprendeu a aceitar. Compreendeu que sente falta de tudo que emana
dele. E terá que viver assim por muito tempo. Mas isso não a impede de dar
passos largos em direção ao futuro. Ela sabe que irá continuar sentindo a
ausência dele. Dos sonhos que poderiam ter concretizado juntos. Ficará o
silêncio. Aquele buraco.
Luciana Praxedes
Santos, 15 de fevereiro de 2017