domingo, julho 12, 2020

O gosto doce do divórcio



Tem uma praça em Roma de onde saem três ruas. Ontem tive uma explicação sobre a cidade de Roma em um passeio on-line magnífico promovido pelo Alexandre Disaró (procure no Instagram). Recomendo fortemente.
Mas como eu ia dizendo, dessa praça de Roma saem três ruas. Para mim, aquilo ali foi muito simbólico, bem na semana do meu divórcio oficial. Essas três ruas podem simbolizar o rumo que desejamos dar às nossas vidas.
Divórcio consumado, eu tenho agora as minhas escolhas e isso me deixa mesmo muito animada. Como toda boa geminiana, vim aqui hoje falar do lado doce do divórcio, já que meu texto mais recente estava um tanto quanto amargo.
De agora em diante, eu escolho a luz, a alegria, ser produtiva, ser independente, escolho ser livre, escolho fazer as minhas escolhas. E qualquer um dos três caminhos (simbólicos) pelo qual eu decida seguir vão me levar ao lugar onde eu mereço estar.
Eu tenho muita vida ainda pela frente, embora minhas rugas e meus cabelos brancos possam dar a entender o contrário. Pretendo viver pelo menos mais uns 20 anos. Por aí... Ou mais, até. Se eu viver tanto quanto o meu pai, que tem 90 e que está em plena produção, escrevendo livros um atrás do outro, tenho então mais 30 anos pela frente.
E você pensa o que?? Que vou ficar de braços cruzados, ou tricotando?? Posso até tricotar, porque eu gosto. Mas ainda quero ser útil para a sociedade.
E como eu quero fazer isso?? Eu faço parte de um projeto muito, muito, muito bacana chamado e-Editora. Quer saber mais sobre ele?? Veja aqui neste link.
Para chegar a este resultado “final” do link aqui de cima, fizemos uma reunião on-line que durou mais de 3 horas. Claro que foi cansativo. Mas muito recompensador. Quando eu li o texto da descrição do nosso negócio, fiquei muito orgulhosa (no bom sentido) do nosso time e de mim mesma, por que não??
Somos movidos por um propósito maior e nosso projeto vai tocar as almas que precisam ser tocadas, ou seja, as almas dos jovens que hoje estão nos departamentos de marketing das empresas e que podem escolher o nosso projeto para apoiar. O jovem que tem um avô, ou uma avó, que também tem histórias pra contar.
Por isso, eu sei que qualquer uma das três ruas pelas quais eu decida seguir vão me levar a um lugar bacana. E isso a gente só sabe mesmo com a maturidade. Vai dar certo, porque tem de dar.

quarta-feira, julho 08, 2020

O gosto amargo do divórcio



Antigamente, quando eu era criança, existiam dois remédios para quando a gente caia e se machucava. Comigo, isso aconteceu pouquíssimas vezes, porque eu era uma menina muito comportada, estudiosa, que era chamada de “bolha”, nem sei se alguém se lembra desse tipo de xingamento. Não gostava de nada que envolvesse bola, porque tinha medo de que uma bolada quebrasse meus óculos.
Mas, voltando aos remédios, eram dois: mertiolate (que ardia e era transparente) e mercuriocromo (que não ardia, mas era vermelho e manchava a roupa, a pele, tudo). Claro que eu preferia o mercúrio-cromo, que não ardia. Outra coisa que era um drama era arrancar o band-aid. Era melhor arrancar de uma vez, era uma dor só e rápida, ao invés de muitas dorezinhas menores, que duravam muito tempo.
Mas tô falando em todas essas dores porque quando um casal chega à reta final do seu relacionamento, é a mesma coisa: dói.
Dói porque a gente começa a pensar em tudo o que não deu certo, em tudo o que poderia ter sido e não foi, naquela cena de filme em que um casal de idosos passeia de mãos dadas. E a gente pensa também em tudo o que deu certo e que não vai mais acontecer. Nos momentos felizes, por exemplo, quando nossos filhos nasceram, quando fomos morar na casa de vila, quando nos mudamos para o apartamento próprio. Nos momentos alegres que nunca mais se repetirão, nas viagens. E isso dói.
Por mais que o casamento tenha se esgarçado, como um tecido carcomido por traças, pelo mofo, pelo bolor, os momentos felizes existiram, é claro. Senão não teria durado tanto tempo.
Quando meus pais se separaram, em 1974, eu passei a achar que a minha vida perdia o sentido, porque eu, supostamente, era fruto de um amor que não existia mais, então a minha existência estava condenada a não existir mais, também. Eu juro que pensava isso e me sentia muito mal por pensar dessa forma.
Agora chegou a minha vez. Meu casamento já acabou muitas e muitas vezes. Que nem aquele band-aid ali pendurado que a gente vai arrancando aos poucos, por não ter coragem de arrancar de uma vez só. A mais recente separação já tem um ano. E como eu não tenho nem a mais leve pretensão de um dia, nesta minha breve existência aqui no Planeta Terra, reatar o relacionamento com o ex-marido, marcamos o divórcio.
Naturalmente, devia ser um ato jurídico como outro qualquer. Mas descubro que não. É um ato jurídico com o sabor amargo do fracasso, que arde como ardia o mertiolate. Não dá para escolher o mercúrio-cromo, desta vez. Tem que arder, mesmo. É o gosto amargo do fracasso, do luto, de tudo quanto é sentimento triste, de finalização de um ciclo, de uma vida inteira.
Mas eu conto com o ar fresco do mês de julho para oxigenar de novo a minha alma, resgatar a minha capacidade de amar todos os outros amores possíveis, pelos meus pais, meus filhos, minhas netas, meus amigos e amigas, meus autores e autoras. Pelos vizinhos e desconhecidos, o amor universal, sabe?? Ele é o mais poderoso de todos os amores e está à nossa disposição. É aquele amor que quanto mais a gente doa, mais a gente recebe de volta.
Quero mergulhar nessa piscina cheia de amor. E espalhar mais e mais amor, assim como uma mangueira frutifica um monte de mangas, assim como um mamão contém um milhão de sementes, cada uma capaz de gerar outro mamoeiro.
É isso. Agora dá licença que vou celebrar mais um “filho” que acaba de nascer: a coletânea 21 Histórias de Superação. E assim segue a vida, essa mescla de momentos tristes e felizes.