domingo, outubro 29, 2023

Parabéns e feliz aniversário ao meu querido blog!


Olá, querido leitor.

O Consulta Sentimental completa 20 anos hoje. Há 20 anos eu resolvi lançar meus serviços de consulta sentimental para o Universo. No começo, algumas pessoas totalmente desconhecidas apareciam aqui para se “consultar” e era engraçado. Nunca deixei ninguém sem resposta (pelo menos, não intencionalmente). Hoje também é a véspera do aniversário de um ano da minha nova vida aqui na aldeia, como já contei aqui no blog

Depois, o espaço foi sendo usado pelas minhas reflexões, reclamações, pelos meus textos que tinham que sair por algum lado. Toda pessoa que escreve gosta de ser lida. O António (meu amor - na foto antes de nos conhecermos) diz que é ego. Eu não acho. Acredito em “inspiração” e talvez aqueles nossos pensamentos desencontrados possam vir a ser úteis a alguém. Fora que o mero exercício de escrever tem todo esse poder curativo e de clarear as ideias e eu continuo aqui, a escrever, mesmo quando estou muito ocupada fazendo coisas mais importantes, faço uma pausa e venho aqui.

O que é mais importante? O que é viver? Para mim, tem a ver com o SER e não com o TER e cada vez mais tenho a certeza absoluta disso. Embora eu esteja na fase mais introspectiva da minha vida inteira, ainda sinto esse impulso, essa vontade incontrolável de escrever.

E hoje, 20 anos depois de quando publiquei a letra daquela música da Rita Lee que ainda adoro, Amor e sexo, eu não poderia deixar de vir aqui para celebrar esse aniversário incomum, improvável e completamente desimportante.

Mas por mais que eu ainda goste da música da saudosa Rita Lee, que foi cantar em outras paragens, eu tenho uma única coisa a declarar aqui no “meu” espaço: que amor e sexo, quando andam juntos, são do melhor que há. O ideal é tentar unir as duas coisas, porque aí sim funciona tudo às mil maravilhas, ignorando idade, menopausas, ruguinhas e gordurinhas a mais. Nada disso interessa.

Uma maneira de “comprovar” isso que eu digo é publicando aqui um trecho de poema Campo Aberto, escrito pelo mais lindo e talentoso poeta de todos os tempos, o meu marido, António Rodrigues, no livro A Fenda (2017).

... o que procuro no teu sexo

não é a rosa da sua substância,

as vibrações e o sal que temperam o fogo,

nem as naturezas que lá habitam

e cravam o seu esporão na carne.

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Por fim, sempre por um fim

que é um princípio no infinito circular

o que anseio ao percorrer-te,

profundamente, o vazio pleno,

no centro do teu âmago,

é uma floração cósmica num campo amplo de ternura

que me tome como a um lobo, faminto e terminal,

no altar da natureza.

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sábado, outubro 21, 2023

Sobre falar com as árvores, ou melhor, sobre saber ouvir as árvores, nossas irmãs


Em Nespereira, a conversar com um cedro do Líbano, plantado em 1646 (segundo a tradição)
Fotografia: @António Rodrigues
 

Sou filha única, portanto, não tenho seres humanos irmãos. Mas tenho as árvores como irmãs, e sempre que posso, abraço uma e tento “ouvir” o que ela tem a me dizer. Elas sempre me falam sobre contemplação, sobre observar e sobre o fluxo da vida em movimento, embora elas não se movimentem a não ser que o vento venha balançar seus galhos. Generosas, oferecem seus frutos e sua sombra, emprestam seu tronco para os musgos e seus galhos para os passarinhos fazerem seus ninhos. Mas elas são boas mesmo em purificar o ar que respiramos.

Ando na fase mais introspectiva de toda a minha vida, desde que me mudei há quase um ano para Portugal. Vim atrás do amor da minha vida. E tenho refletido muito sobre o Tempo, o Amor, a Vida e a Morte, as separações e uniões. Tudo isso que compõe a nossa vida, nosso dia a dia. Agora que estou na infância da velhice, como bem diz o meu amor, entendi que preciso ser mais seletiva do que nunca. E desde que comecei a me comunicar com as minhas irmãs árvores (lembrando que também somos irmãos e irmãs de tudo o que vem da Natureza, como pedras, flores e bichos), fiz algumas descobertas. Quando a gente encosta o ouvido no tronco de uma árvore, quase conseguimos escutar a seiva a correr do solo para as folhas mais altas. Ao refletirmos sobre a raiz das árvores, que em geral é equivalente à sua copa, conseguimos perceber sua energia e sua força.

De repente, eu me dei conta de que também nós, seres humanos, temos as nossas raízes simbólicas. Quando vim para Portugal, não pude trazer minhas raízes nas malas, que continham todos (ou quase todos) os meus pertences. Uma das minhas frases preferidas diz que “as melhores coisas da vida não são coisas”. Nós até compramos um avental, aqui perto, em Nazaré, com esses dizeres. Desconheço a autoria. Por isso, nunca me preocupei muito com as tais "coisas". 

Mas se deixei minhas raízes para trás, ganhei muito em troca: nunca me senti tão profundamente amada como sou hoje, e só isso compensa qualquer raiz que eu tenha deixado lá no Brasil. Não me arrependo de nada e se fosse escolher hoje, faria tudo absolutamente igual.

Só que hoje, ao ouvir o Arnaldo Antunes (com os Titãs) cantar “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”, pensei no “meu” povo brasileiro, nas minhas raízes que gritam tão alto, de vez em quando, mesmo distantes fisicamente de mim. Meu povo... Eles invadem Portugal com uma imensa vontade de vencer na vida, ou simplesmente de conseguir viver uma vida um bocadinho melhor (como se diz aqui). Pensei nos imensos sacrifícios que alguns deles fazem para estar em um país europeu, do primeiro mundo. Pensei naqueles que vêm em fuga das péssimas condições que têm lá. Culpa de quem? De anos e anos de maus governos. Mas isso eu não quero discutir aqui.

Quero sim falar dos dramas humanos de tantos brasileiros e brasileiras que a gente vê por aqui em cada lugarzinho onde vamos. Eles estão por toda a parte, a fazer os serviços que os próprios portugueses não querem mais. Enquanto alguns portugueses vão para outros países europeus onde são mais bem pagos (sei de uma portuguesa que mora em Londres e de outro que mora em Amsterdam e trabalha com turismo), os brasileiros estão aqui nas limpezas, nos supermercados e restaurantes, em busca de um “lugar ao sol”, mesmo agora no outono e, em breve, no implacável inverno europeu, que exige agasalhos e sapatos muito diferentes daqueles que costumamos usar lá no nosso país tropical. Estão todos aqui, na luta por uma vida melhor, mais digna, mais completa, não só com comida, mas com comida, diversão e arte. É um direito legítimo, como bem expressaram os Titãs.

Ainda bem que nós não somos como as árvores, que não podem mudar de um lugar para outro. Eu me mudei. Muitos brasileiros também se mudaram para cá. Eu, por amor. Outros, por necessidade. Mas as nossas irmãs árvores simplesmente estão ali onde as plantaram ou onde brotaram naturalmente, com suas raízes e sua força.

Quando a gente as abraça e ouve a seiva a correr do solo pelo seu tronco até as folhas mais altas, a gente sente essa energia telúrica, e percebemos a sinfonia da VIDA em movimento, embora elas estejam ali paradas. Percebemos que o segredo da vida é justamente o movimento. E nós todos, todos os habitantes do planeta, sem exceção – ainda que não mudemos de país – estamos sempre em movimento, em direção ao que consideramos uma vida melhor, mais equilibrada, mais feliz.

Não leio mais jornais e nem vejo as notícias na TV ou nos portais de notícias na internet. Mesmo assim, as redes sociais me informaram que há uma “nova” guerra entre palestinos e judeus. E isso me entristece profundamente. Não sei dessa situação em detalhes e não me interessa saber quem tem razão. Só sei, e tenho certeza absoluta, de que a guerra não resolve nada. Só o que resolve é o AMOR. Outro dia, postei outra frase que eu adoro, desde sempre: “O amor é a resposta, não importa a pergunta”, também de autoria desconhecida. Ah, e como falta amor nesse nosso planetinha azul... Como é triste constatar isso, mas é a mais pura verdade. Como me sinto mal perante tanto mal... Só posso escrever e rezar. Peço que as pessoas que estão à frente desse combate irracional que se lembrem de cultivar dentro delas os sentimentos de amor e fraternidade. Não é grande coisa. Mas é a única coisa que está ao meu alcance agora.

Também tenho dedicado um tempo do meu dia ao estudo do tarot de Marselha. Ganhei o baralho do meu amor, quando estivemos em Aveiro, em direção à Arouca e depois Gerês. Sim, apesar de “reformados” (aposentados), nós nos demos férias. Estávamos precisando tanto... E recarregar as baterias junto da Natureza faz um bem danado. Caso você não saiba, todos temos direito a férias (mesmo aquelas pessoas que não estão a trabalhar por qualquer que seja o motivo). Mas este também não é o texto para falar das belezas de Arouca e do Gerês, a zona mais linda e de natureza mais pura de Portugal, na nossa opinião.

Voltando ao tarot, ele é um portal para o inconsciente e eu tiro uma carta dos 22 arcanos maiores por dia, estudo o seu significado e sinto a sua vibração. A de hoje foi a Temperança. Ah, como o mundo precisa de Temperança... Palavrinha quase fora de moda, mas que nos convida a temperar o gelado e o quente, até chegar ao morno, o equilíbrio ideal. E volto à maldita guerra. Pego minha varinha mágica, que recolhi em meio à Natureza, e invoco deuses e deusas a pedir que a Temperança inspire as “autoridades” em todo o mundo (e a guerra da Rússia e da Ucrânia, em que pé está?) a simplesmente pararem de mandar matar as pessoas, sobretudo as crianças inocentes. Não consigo compreender como neste ano de 2023, quando na minha infância eu achava que estaríamos todos a viver em um mundo tipo Jetsons, a humanidade ainda não aprendeu que o AMOR é o mais importante. Simples assim. Ah, se pelo menos eles “ouvissem” os conselhos das árvores...