quarta-feira, novembro 04, 2015

A gaveta

A partir de hoje, o Consulta Sentimental passa a publicar também alguns textos brilhantes e transbordantes de emoção pura da minha amiga, jornalista e advogada Luciana Praxedes. Como sempre gostei muito de ouvir as histórias que ela sabe contar como ninguém, no curto tempo em que trabalhamos juntas, decidi convidá-la para ser colaboradora aqui no blog.

Ela hesitou durante algum tempo, mas acabou aceitando o convite.

Enviou alguns textos tão sensíveis e delicados que me emocionaram e eu sei que emocionarão quem chegar até aqui.

Deixe um comentário com a sua opinião sobre esta nova faceta do blog Consulta Sentimental.

A Gaveta

Ela resolveu mudar os móveis de lugar, pintar as paredes. É ano novo, faz sentido. Na arrumação, logo na primeira gaveta da velha cômoda encontra uma dobradura e a letra de duas músicas, não canções insignificantes, mas a trilha sonora de uma história. A sua história.

Percebeu o óbvio: não é de um dia para o outro que se tira alguém da nossa vida. Ela concluiu que fácil é esconder, colocar na gaveta, mas abri-la é como um tapa no rosto, um murro no boca do estômago.

Foi ela que decidiu, que chorou e, corajosa, colocou um ponto-final. Mas não sabia que o fim, o de verdade, só acontece depois do primeiro fim. É quando se chega em casa, no vazio, para juntar as lembranças que insistem em permanecer. O porta-retrato, as roupas no canto do quarto, o travesseiro com aquele cheiro.

Ela desconhecia que se separar de alguém também é reencontrar pequenos momentos: uma mensagem no celular, um bilhetinho na carteira. O fim também é saudade, é cotidiano, que às vezes se camufla de alegria e conforto para que possamos “abrir as gavetas” e seguir em frente.

Luciana Praxedes
06 de janeiro de 2011 

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