quinta-feira, abril 06, 2017

Mais um presente aos leitores!


Ganhei mais um belo texto da minha querida amiga Luciana Praxedes. exclusivo aqui para o Consulta. Aproveite!

Sobre o tempo que devemos ter

O relógio é um dos seus amigos mais íntimos. Ela precisa acordar na hora certa, sair de casa com precisão e correr contra o tempo. Ela tem pressa porque a vida é rápida, acelerada. O dia dela, e da maior parte das pessoas que conhece, é formado por etapas e atividades que devem ser concluídas com sucesso num determinado período de tempo.

Mas foi num dia, como outro qualquer, que tanta pressa passou a não ter importância. O tempo parou por alguns minutos quando ela descobriu que a vida é efêmera, quase um sopro. Naquele café, enquanto sua amiga contava sobre o diagnóstico do médico, tudo voltou a ganhar a proporção que merece ter. Nem mais e nem menos. Diante do desconhecido e na tristeza da notícia, o relógio da moça travou no momento presente. Na conversa, na dor da sua amiga.

A amiga ficará bem. Tem que ficar. Não é uma dessas coisas que se entrega para a força do destino ou do acaso. Trata-se simplesmente de uma constatação: sim, a amiga irá superar este desafio com graça, amor e rodeada de pessoas com tempo. Tempo para estar ao lado dela, para mimá-la, para conversar e planejar as férias europeias que há anos tentam coordenar. O tempo, ao contrário da pressa, requer disponibilidade, querer. E elas querem.

Com os acontecimentos recentes, ela se deu conta que perder um amigo ultrapassa o fim da vida como conhecemos. A gente não perde as pessoas para a inevitável morte. Também perdemos amigos vivos. E perder alguém querido quando se tem a chance de revê-lo, de tocá-lo, é imensamente mais triste porque decorre de uma perda consentida. A morte da alma, a morte do vínculo, é ainda mais dolorida porque depende apenas de nós. Depende da nossa inércia, da falta de tempo. Esta dor não se aplica a elas, mas o caso a fez lembrar no tanto de pessoas que foram esquecidas no meio da jornada por conta do relógio e dos compromissos assumidos para toda a eternidade.


Aquele diagnóstico trouxe proporção para a vida. Ela não perdeu ou perderá uma amiga. Ainda terá as conversas madrugadas a dentro, as compras no shopping, o dia de comer tranqueira e um futuro repleto de momentos felizes e infelizes. Juntas, ela e a amiga olharão para trás com a sensação de que estavam ali, uma ao lado da outra. Não cederam a vida ao tempo voraz e implacável. Construíram uma vida que ainda se mantém viva. Dentro e fora delas.

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