sexta-feira, janeiro 19, 2024

Os ladrões do tempo

Arte @António Rodrigues

A VIDA é feita de momentos, instantes, insights, entre 1000 outras coisas. 

O TEMPO é uma ilusão, uma necessidade nossa, uma prisão. 

Nosso grande desafio, portanto, é gerir a VIDA ao longo do TEMPO que o Mistério (Deus) nos concede aqui nesta nossa NAVE, que é o Planeta Terra, em constante (e acelerado) movimento no Universo. Giramos ao redor do Sol a uma velocidade média de 29,9 quilômetros por segundo. Nossa nave querida...

E você? Como está a gerir seu TEMPO de VIDA por aqui? Quanto tempo dedica a você? Aos outros? À internet? Ao trabalho? Ao lazer? Á família? Aos amigos? Á saúde? À espiritualidade? Aos afazeres do dia a dia? Aos planejamentos? Á leitura? À alimentação? Às atividades ao ar livre? Às compras? Aos sonhos? 

Sim.. essa é apenas uma pequena listinha de tarefas e todos nós, sem exceção, somos chamados a lidar com tudo isso que escrevi e muito mais, ao longo do dia, da semana, dos meses e dos anos. 

Como você está a equilibrar os pratos dessa balança na sua vida? Em geral, a gente se perde ao tentar dar conta das urgências e das prioridades, deixando de lado as coisas importantes. 

Hoje vi um pequeno vídeo da psicanalista e escritora Maria Rita Kehl, citando o crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo alemão Walter Benjamin, sobre a diferença que ele traça entre a vivência (viver o dia a dia) da experiência (quando a gente consegue analisar as vivências e sentimos vontade de escrever sobre elas), 

O que acontece é que quando estamos mergulhados nas nossas vivências do dia a dia, não abrimos espaço para as experiências. 

Quando aceitamos todos os convites (coisa que eu fazia quando morava em São Paulo) talvez por "medo" de recusarmos e a pessoa que nos convidou deixar de gostar da gente, e não por vontade real de fazer aquilo, estamos a ceder aos "ladrões do tempo". 

Mas quem são esses ladrões do tempo? Além das atividades que não nos apetece fazer, nem preciso dizer aqui que o telemóvel / celular e as redes sociais que nos seguem por todo lado são os principais ladrões do nosso tempo, a quem entregamos os nossos preciosos minutos e horas por livre e espontânea vontade. Ou talvez por inércia. 

YouTube, Facebook, Instagram, WhatsApp, Netflix, TikTok, Threads, Pinterest, apps diversos... Nossa vida virtual é rica em siglas e nomes de empresas que sabem muito mais a nosso respeito do que nós mesmos. 

O autoconhecimento fica relegado a 125o. plano. E seguimos como robôs, diante de telinhas e telonas (que aqui se chamam ecrãs), nos encaminhando para precipícios prontos a engolir as nossas almas. 

O que você faz para lidar com esses "ladrões do tempo"?  Ou você entrega alegremente seu precioso tempo a eles, em busca de likes e de audiência, deixando para trás a sua vida REAL, ou seja, a VIDA OFFLINE? 

Você faz o que ama com que frequência? Aliás, o que você ama fazer (offline, é claro)? Será que você é daquelas pessoas que adia aquilo que ama, distraída (o) que está correndo atrás desses "ladrões do tempo"?? 

Reflita por um instante e responda para você mesma (o): quem está a levar a melhor nessa guerra entre a VIDA e o TEMPO? 

Eu estava a aprender italiano num desses aplicativos fofos, cheio de personagens fofos, achando que estava fazendo uma grande coisa. Até que eu cheguei em primeiro lugar na divisão mais alta da hierarquia da competição (sim, no fundo é uma competição) que lá existe, com pessoas que não somente não sei quem são, como nem mesmo sei se elas existem de verdade. Provavelmente não são pessoas reais. Eles inventaram baús de recompensas, que devem ser abertos em horários específicos do dia, de manhã ou à noite, e isso começou a exercer uma pressão em mim, CDF que sempre fui. 

Tanto que perdia horas ali, achando que estava simplesmente estudando italiano, quando, no fundo, no fundo, eu estava a dar audiência para anúncios e lutando para não ser "rebaixada" de divisão! O curso é um labirinto sem fim, é repetitivo, avança muito devagar, para que os "alunos" fiquem presos e passem cada vez mais TEMPO ali. Quando percebi quão maquiavélico é aquilo, deletei imediatamente o app do meu celular e sobrou TEMPO para escrever este texto que também não é nenhuma maravilha, mas pelo menos pode ser que ajude mais alguém a abrir os olhos. Embora este texto esteja justamente na internet, plataforma onde, teoricamente, "todos" teriam o potencial de acessá-lo, nesse meu velho blog. 

Mas sabemos de antemão que os tais algoritmos cuidarão bem para que ele fique bem escondidinho atrás de um URL obscuro, ainda mais porque citei os nomes das poderosas empresas que tudo sabem e tudo veem.  

Mesmo assim, vou compartilhar este link no Facebook, para avisar minha meia dúzia de leitores que tem texto novo por aqui. Caso não faça isso, é capaz de não aparecer viv'alma por aqui, ou como se diz aqui em Portugal, capaz de ninguém pôr aqui os pés. 

Hoje, todo mundo pode criar conteúdo, o que parece uma coisa muito boa. Mas quando a gente observa de perto, enxerga que a internet virou um repositório de superficialidades sem fim. Tem coisinhas fofas e interessantes, como o vídeo da Maria Rita Kehl, que citei. Mas tem uma imensidão de vídeos bobos, desnecessários, coisas idiotas e sem sentido. 

Esse conteúdo infinito só é mesmo capaz de criar uma coisa muito perniciosa: a famosa ansiedade. 

Por isso, minha amiga, meu amigo, não caia na nessa rede perversa. Crie a sua estratégia de lidar com os "ladrões do tempo". Faça as suas escolhas de forma consciente. Descubra o que te faz se sentir livre. Use seu tempo para criar as suas experiências e não fique nessa coisa rasteira das meras vivências cotidianas. Torne-se artista, crie suas próprias obras de arte. Acredite em si mesma (o). Use a tecnologia a seu favor, com parcimônia e responsabilidade, se deseja ser dona (o) da sua liberdade, do seu tempo, da sua vida. 

Pense nisso e deixe seu comentário, mas lembre-se de me dizer o seu nome, porque eu permito comentários anônimos, para facilitar, mas está cheio de gente que comenta e não me diz quem é. 

Paz, amor e saúde e até o próximo post!

4 comentários:

  1. Anônimo10:00 PM

    Silvia se nós deixamos roubar perdemos, sempre, mas os ladrões de certa maneira sempre nos sinalizam. Meu prazer mais novo e recente tem sido chupar picoles do Rochinha neste calor intenso do verão em São Paulo. Você já experientou chupar um de groselha? Fantastico! Beijos. Alicinha

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    1. Boa! O de groselha deve deixar a língua vermelha! kkk
      Eu amei mesmo foi um sorvete de casquinha de lavanda, na França... inesquecível!! Tenho foto! Ainda vou escrever sobre sorvetes. Tenho várias histórias pra contar.

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  2. António Rodrigues10:23 PM

    Nem mais, nem menos, meu amor.
    Este mundo virtual é enganador. Orwell intuíu que por aqui andaríamos mais tarde ou mais cedo. Isto começou a prometer aproximar-nos uns aos outros mas acabou por abrir o caminho da destruição. A civilização caminha para cenários irreversíveis a todos os níveis de comportamento humano e colapso ambiental e promete um apocalipse. Os actuais filhos das tecnologias estão mais isolados e egocêntricos do que as gerações anteriores e convictos do seu arbítrio, originalidades alternativas e até rebeldias estão totalmente manipulados e manipuláveis cumprindo os desígnios das grandes corporações pensando que estão contra a corrente.
    Por isso saúdo as tuas palavras e o estado de consciência que as acompanha.
    Mais te agradeço a alegria de fazeres acompanhar o teu excelente texto por uma simples criação gráfica da minha autoria.
    Fica aqui afirmado o meu respeito, o carinho e o amor.

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    1. Muito obrigada pelo comentário e pela participação, meu querido!
      Mas eu ainda sou um pouquinho otimista e sempre acredito que as coisas podem melhorar. Por isso escrevo!
      Sua criação gráfica não tem nada de simples. Ela é genial e ilustrou muito bem o meu texto.
      Sigamos juntos a construir a nossa obra d'arte!

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