Senta, que lá vem história.
Toda pessoa que tem alma de escritor devia andar de ônibus, uns tempos. O desfile de personagens é uma coisa fantástica! Tem desde o executivo ouvindo seu IPod e lendo uma revista em inglês, até a empregada doméstica, com o seu perfume barato. Pelancas caindo pra fora de calças apertadas, blusas agarradas teimando em subir. E quando você senta no banco que fica do lado do corredor, prepare-se para levar pisões no pé, bolsadas na cara, barrigadas no ombro e coisas assim. Eu pareço ser legalzinha, mas quando uma pessoa invade meu "espaço pessoal", não gosto nem um pouco. E, ao andar de ônibus, pode esquecer do seu "espaço pessoal"...
Ontem não tinha lugar pra sentar. Fique de pé lá no fundão, perto de um cano vertical, onde me segurei. Sabe o tal espaço pessoal? Então, uma menina decidiu segurar no mesmo cano que eu e colocou sua mão bem perto do meu nariz. Minha primeira reação seria dar uma mordida, pra tirar a mão dela dali. Mas sou civilizada e nunca me esqueci que fiquei de castigo porque mordi uma menina na escola quando eu tinha seis anos. Uma hora, ela tirou a mão dali pra coçar o nariz. Era a minha chance! fui indo mais pra frente, me agarrando mais ainda ao tal cano, para que não tivesse jeito de colocar qualquer coisa ali, naquele espaço que era MEU!
Pronto, chegou seu ponto e você gostaria de descer. Sim, mas para isso, há uma corrida de obstáculos a vencer. Tem sempre aquelas pessoas que resolvem se instalar bem na saída do ônibus, agarrando aquele ferro como se daquilo ali dependesse a sua vida. E o pior é que depende, mesmo. Os motoristas, a grande maioria, dirige como se estivesse dirigindo um caminhão cheio de caixas. Aceleram demais, brecam de repente, fazem curvas de uma maneira que parece que queriam ser corredores de Fórmula 1. Desimportantes e irrelevantes, as pessoas ficam chacoalhando de lá pra cá, umas caindo por cima das outras.
Tem o mocinho aproveitador, que encosta demais na moça, ainda que o ônibus não esteja tão cheio assim. Tem de tudo um pouco. Tem o garoto que senta no banco dos idosos e finge dormir pra não ter que levantar para aquela senhora gordinha, carregada de pacotes e sacolas. Tem avó com neto (muitas). Tem casais de velhinhos que, ao invés de escolherem um horário em que o ônibus esteja mais vazio, preferem viajar no horário do rush, mesmo, que é mais divertido. Eu acho que eles sempre estão certos. Podem fazer o que bem entenderem. São uns fofos. E demora. Demora, demora. Pára no ponto e as pessoas vão entrando. Ninguém vai pro lado esquerdo, todos vão pro lado direito e o ônibus não pode sair do ponto enquanto todas aquelas pessoas não passam seu bilhete único. Ai, que cansativo. Mas o que importa é que vou ser contratada e vou ter carteira assinada. Por isso, nada disso importa. E até é tudo muito engraçado. Pelo menos, tenho material para quando eu for virar escritora. :-)
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