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O farol
Em apenas um intervalo de 30 segundos, entre o farol
vermelho e o verde, ela percebe que aquele moço, de camisa xadrez e olhar
perdido, não é mais o mesmo. Talvez a sombra, quase apagada, de alguém que um
dia fez parte da sua vida, que um dia amou. Não era a mesma pessoa que explorou
seu corpo, que dividiu o cobertor, que fez parte da sua história como
personagem principal.
Parada no sinal, ela nem pensa em buzinar e oferecer uma
carona. Não precisa cumprir o manual da boa educação. Não quer iniciar uma
conversa, que parecerá tão distante, aprisionada nas fotografias daqueles dias
claros de verão. Foi por aquele alguém que ela aprendeu a cozinhar, a fazer
omelete de legumes e bolo de fubá. Era a voz, a boca daquele moço que emitia
todos os sons mais urgentes, espécie de hino hipnotizante.
Depois de infinitos desejos de boa noite ao pé do ouvido, de
sussurros e descobertas, ele não tinha mais nome, sexo ou cheiro. Era apenas um
anônimo, com sua camisa xadrez desbotada, memória longínqua de um amor que
existiu, que quase a absorveu, que transbordava pelos poros, gestos, olhos e
movimentos. Não era o mesmo moço que a fazia perder o fôlego, que fazia seu
mundo girar em uma ciranda sem fim.
Ele não era mais ele. Ela também não era mais ela. Começa a
tocar no rádio a música que um dia amou, mas que agora é indiferente. Apenas
uma canção qualquer, sem rimas ou versos. O sinal fica verde e ela vai embora.
Sem olhar para os lados.
Luciana Praxedes
(Novembro de 2015)
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