sexta-feira, janeiro 28, 2005

Obrigada!
Valeu mesmo! Fiquei muito contente com tanta força virtual vinda de você.
Pra não deixar a sexta-feira passar em branco, resolvi relembrar a velha (bota velha nisso!!) historinha de La Fontaine, que dá origem ao termo "mãe coruja".
Fiquei pensando nesse tipo de amor incondicional, de mãe para filho, e uma coisa puxou a outra e aqui estamos.
Parece que achei a versão original em um Português igualmente arcaico. A história é bem triste... Condiz com a aparência do dia em São Paulo, hoje.
Tirei aqui deste link.

A Águia e o Mocho

Puseram termo águia e mocho
As antigas dissensões,
A ponto de se abraçarem
Em cordiais efusões.
Ao firmar os compromissos
Um invoca a fé real,
Outro os foros comprovados
De mocho honrado e leal.
Por juramento prometem
Poupar mutuamente os ninhos.
Pergunta o pássaro triste:
"Conheceis os meus filhinhos?"
"Nunca os vi (volve a rainha)".
Torna a ave de Minerva:“
Ai de mim, míseros filhos”,
Que sorte céu vos reserva!
Só poderão por milagre
Das garras vos escapar,
Sois rainha e os reis só querem
Seus caprichos escutar.
Surdos a nossos reclamos,
Reis e deuses têm por norma
Nivelar tudo, tratando
A todos da mesma forma.
Ái da pele de meus filhos
Se acertardes de encontrá-los!
"Bem, retoque-lhe a rainha,
Nesse caso é retratá-los,
Ou mostrar-m'os; quero vê-los
Para bem os conhecer;
Nem sequer hei de tocá-los;
Nada terão a temer".
"Meus filhinhos (disse o mocho)
São mimosos e bem feitos;
E entre os outros passarinhos
Os mais lindos e perfeitos.
Por estes sinais tão claros
Podereis saber quais são;
Não se vos risque da idéia
Esta fiel descrição;
Pois se a esquecerdes - a Morte,
Por vós própria conduzida,
Pode, o ninho penetrando,
A todos roubar a vida".
Teve o mocho uma ninhada;
E um dia, vindo a sair
Em procura do sustento
Para os filhinhos nutrir;
Noss'águia viu, por acaso,
Nuns penhascos algares
Ou nos vãos de uns velhos muros,
(Não sei em qual dos lugares),
Viu, digo, uns feios mostrengos
Tipo mal afeiçoado,
Ar triste e voz de Megera,
Sobrecenho carregado.
Disse a águia: "não são estes
Os filhos do amigo meu,
Trinquêmo-los".
Dito e feito:
Toda a ninhada comeu.
Não se contentam as águias
Com refeições à ligeira;
Esta nos pobres mochinhos
Fez, portanto, razzia inteira.
Quando o môcho, após momentos
No sangrento ninho entrou,
Dos seus diletos filhinhos
Somente os pés encontrou.
Queixa-se a Javé e lhe pede
Puna o pássaro perverso,
Que, salteando-lhe o ninho,
O deixa na dor imerso.
Disse-lhe alguém:
"Não te queixes
Senão de ti, ou da lei,
Que rege no mundo a todos
Da humana ou da bruta grei.
Por ela, os que nos semelham
São transuntos de beleza,
Lindos, bem feitos, amáveis,
Primores da natureza.
Disseste que eram teus filhos
Modelos de formosura;
Desconheceu-nos a águia
Naquela ingrata figura".

Jean de La Fontaine

Ah! "Mocho" é coruja.
E a moral da história é: "quem ama o feio bonito lhe parece".
Bom fim de semana.

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